quinta-feira, 16 de março de 2017

Não o chame de poeta



Imaginava aquela boca
aqueles dentes brancos mordendo-os
Imaginava aquela crina de anjo na casa dos 30 anos
Imaginava aqueles olhos pequenos protegidos por aço e vidro
e tinha o cheiro que não conseguia me lembrar
Imaginava aquela voz arrastada nos meus ouvidos como pássaros inconvenientes pela manhã
impondo uma vida mesmo que não houvesse tempo
Imaginava aqueles dias que poderia ter ao lado dela sem precisar ficar na dúvida de segurar o gatilho por mais um minuto
Imaginava a casa arrumada com a janta na mesa depois de sentir vontade de matar meio mundo
então eu bebia nos bueiros do meu ócio
nas poças d'águas constantes que desafiavam meus pés
estava sendo vencido por murros bem dados pelo tempo
E imaginava o gosto de terra enquanto ela estaria sorrindo confortavelmente em algum lugar com sol
e imaginava a corda frouxa lentamente me pondo de molho
Só imaginava
morria errado de novo


Redson Vitorino

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