domingo, 16 de abril de 2017

Sábado de aleluia


Não, não tem noite que mais me ampare.
Eu adiantarei a pedra,
removerei seu conteúdo,
o peso que livrará o sepulcro
dos intensos deuses tardios,
as deusas tomarão o espaço
como pássaros pintados
nas paredes do adro
e a solidão ocultará
a modernidade,
as inovações tecnológicas,
a ousadia afetada dos poemas.
Tudo que se consome
some na angústia do momento
e a fome das estrelas
em continuar a vida distante
dos atos mais humanos
me comove.
Minha mão feminina
ampara na lembrança
o lençol que minha avó
me deu quando fui
moço
de Itapetininga.
Ela usou a costura
pra me dizer adeus.
Ela se escondeu nalgum
canto da saudade
e na hora grave em que expio
minha culpa,
minha tão grande culpa,
debruço sobre o jardim do ressuscitado
e o vazio do latifúndio,
recordo a maciez que me abrigou
enquanto eu dormia.
As flores que carrego no meu nome
são todas estampas do pano
tão simples, tão árabe,
qualquer ponto luminoso
entre o minarete e a lua.
Fiori Esaú Ferrari


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