sábado, 10 de junho de 2017

Como um conhaque
na manhã de névoa,
bebo meus versos.
Sei que a rua não vai dar em lugar nenhum
e que a saída do labirinto se chama nada.
Mas com um verso aqui,
outro acolá,
a gente vai contornando os muros
e saltando os obstáculos das esquinas.
E enquanto o Minotauro não der as caras,
vai valendo o jogo.
(Por vias das dúvidas
não levo o óbolo
com que subornar Caronte.)
A vida é um livro aberto:
mas um livro de versos
livres, com raras, poucas rimas
e muito espaço em branco
onde eu posso desenhar
teu rosto
e o desgosto de tudo ser tão breve
quanto um trago.
Como um conhaque
bebo meus versos
na manhã que se estende cinza
sobre a cidade.
E tudo o mais é poesia.
Otto Leopoldo Winck


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