sábado, 21 de outubro de 2017

outro dia trarei o Régio...

De Miguel Torga

Pórtico

Aqui começa a nova caminhada.
Se a levar ao fim, darei louvores a Deus,
Como meu Pai, ao despegar
Do dia ganho.
Não por haver chegado,
Mas ter acrescentado
Um palmo de ilusão ao meu tamanho.

Um espantalho
Carne de palha rasgada
Tem mais carinho que eu
Pássaros pousam em seu ombro
O vento cochicha ao seu ouvido
Recebe aceno de crianças
Piscadelas belicosas da lua

Um espantalho
Mãos escapando pelas mangas
Não sofre esta angústia grave
A ausência das tuas mãos grandes
Enlaçando as minhas mãos em
Carne, osso, gozo e esperança


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